Toda tomada de decisão, inclusive financeira, envolve necessariamente o que se vai ganhar com a decisão e o que se perde com ela. Para afinar nossas decisões é bom entender que ganhos e perdas têm pesos diferentes.
Outra importante contribuição de Daniel Kahneman para entendermos os nossos comportamentos econômicos é a Teoria da Perspectiva que sugere que somos candidatos a riscos quando enfrentamos perdas e, avessos a riscos, quando enfrentamos ganhos.
Vou ilustrar com um exemplo. Você deve fazer uma escolha entre duas opções: ganhar $ 3.000 com certeza ou ganhar $ 4.000 com uma probabilidade de 80%. Qual opção você selecionaria? 80% das pessoas escolhem $ 3.000 com certeza, o que é lógico.
Mas agora vamos fazer a seleção entre duas opções diferentes. Você pode perder $ 3.000 com certeza ou pode perder $ 4.000 com uma probabilidade de 80%. Qual a sua opção? Nesse caso, 92% das pessoas arriscam.
A conclusão é que as pessoas aceitam risco nos domínios da perda e são adversas ao risco nos domínios dos ganhos. São situações muito semelhantes, mas em uma situação você tem ganhos e na outra situação enfrenta perdas. A perda de $ 3.000 provoca uma dor muito mais forte do que o mesmo lucro de $ 3.000.
A razão de aversão à perda foi estimada em diversos experimentos e, normalmente, fica na faixa de 1,5 a 2,5. Isso é, claro, uma média, pois algumas pessoas são menos avessa à perda do que outras. E por que isso acontece? O cérebro humano contém um mecanismo que é projetado para dar prioridade a notícias ruins. Reduzindo em centésimos de segundo o tempo necessário para detectar um predador, esse circuito aumenta as chances de sobrevivência. As operações automáticas do Sistema 1 refletem este histórico evolucionário.
No momento de qualquer compra, também estamos susceptíveis aos dois aspectos: o ganho que vamos ter ao adquirir o produto ou o serviço e a perda que isso vai causar na nossa carteira ou conta bancária. Então, podemos usar esta relação em benefício da nossa saúde financeira!
Aplicação nas finanças pessoais: Pague suas compras em dinheiro e economize!
De acordo com um estudo de 2007 realizado por neurocientistas das faculdades Stanford, MIT e pelo pesquisador Carnegie Mellon, o córtex insular se “acende” quando as pessoas são solicitadas a imaginar o pagamento da compra com dinheiro ao invés de cartão de crédito. O fenômeno é conhecido como “a dor de pagar”.
Ou seja, quando pagamos em dinheiro, isso se traduz em dor para o cérebro. Já quando pagamos com cartão de crédito ou mesmo cartão de débito ou outro meio eletrônico, apenas os centros de prazer se ativam. Então, sentir mais dor ao pagar com dinheiro pode lhe render bons resultados!
Ainda dou mais duas dicas com relação ao uso do dinheiro: procure ter consigo notas de valor alto e novas! A dor de trocar uma nota alta é maior e tendemos a nos livrar mais rapidamente de notas sujas ou velhas.