Somo seres sociais e, portanto, o relacionamento com o outro é um fator chave de sucesso em qualquer situação: pessoal, profissional e nas organizações.
Compreender o nosso semelhante já não é fácil. E quando não é tão semelhante, então? Pois é, as diferenças que naturalmente existem entre as pessoas, aumentam os desafios para desenvolver um bom relacionamento. E uma diferença fundamental é a que existe entre homens e mulheres.
E onde surgem estas diferenças? Resposta óbvia: no cérebro pois, como digo, somos o que o nosso cérebro nos faz ser! As diferenças entre o cérebro masculino e feminino existem, assim como existem diferenças no resto do corpo. E isso reflete nos nossos comportamentos típicos.
Como regra geral, o homem é melhor em tarefas que envolvem capacidade visual, memória espacial, rotação da imagem mental, e resolução de problemas matemáticos. Já a mulher é melhor em tópicos como fluência verbal, tarefas motoras finas, na localização de objetos, na sensibilidade e na percepção de baixos níveis de estimulação em todos os sentidos (por exemplo: as nuances de cores, de sons, cheiros, etc.). Também há diferenças entre homens e mulheres no que se refere a fatores como predisposição ao risco, confiança excessiva, comportamento competitivo e liderança. Vamos entender algumas de suas causas…
A testosterona é o principal hormônio masculino, produzido naturalmente nos testículos. Embora seja produzido nos dois sexos (nas mulheres, o hormônio é produzido nos ovários e nas glândulas suprarrenais), o homem apresenta cerca de trinta vezes mais testosterona que a mulher.
A testosterona está relacionada com a agressividade e outros comportamentos típicos dos indivíduos do sexo masculino. Os efeitos mais comuns da testosterona no cérebro é aumentar os comportamentos de dominância social e de tomada de decisão arriscada.
Um recente estudo conduzido na Universidade da Pensilvânia, confirmou o efeito da testosterona nestes comportamentos. Os cientistas testaram 250 jovens usando a metodologia do duplo-cego, onde ninguém sabia se estava recebendo um placebo ou testosterona. Foi examinada a capacidade dos indivíduos em um teste de reflexão cognitiva, cujo objetivo foi colocar os indivíduos em uma situação em que há uma resposta intuitiva que logo vem à mente, mas está errada. Para dar a resposta certa é preciso vencer o impulso, se acalmar um pouco, e pensar bem sobre a questão. Foi constatado que a testosterona leva os homens a confiar na resposta instintiva, porém errada, que logo lhes vem à mente.
Existem também alguns comportamentos que são decorrentes das diferenças anatômicas dos cérebros de homens e mulheres.
O hipotálamo, que regula a conduta sexual, é de maior tamanho no cérebro masculino e contém um maior número de células (mais do dobro em relação às mulheres). Isto faz com que homens sejam mais susceptíveis a estímulos sexuais. Isto explicar por que os produtos cuja estratégia de posicionamento inclui símbolos eróticos, por exemplo, campanhas de carros direcionados a homens onde as mulheres aparecem, são tão eficazes no segmento masculino.
Outra diferença observada é que as mulheres têm um maior número de conexões entre os dois hemisférios. Isto se deve ao corpo caloso (substância branca que liga os hemisférios do cérebro e permite que os dois lados se comuniquem) que é mais largo nas mulheres em relação ao dos homens. Isso pode explicar, pelo menos em parte, porque as mulheres têm uma visão mais ampla em determinadas situações e maior facilidade para integrar pensamentos que ligam elementos diferentes entre si.
As mulheres possuem maior domínio das questões relacionadas à comunicação. Isso porque as áreas da linguagem são de 20 a 30% maiores nas mulheres. Além disso, as áreas de linguagem se distribuem amplamente nos dois hemisférios do cérebro feminino, enquanto no masculino se concentram no hemisfério esquerdo.
Outra questão importante: elas não esquecem. A capacidade delas para memorizar é maior que a dos homens e a fixação de memórias com conteúdo emocional é muito potente. Isso porque o hipocampo (que cumpre um papel fundamenta na formação da memória) é maior no cérebro feminino, assim como os circuitos cerebrais que registram as emoções.
Em contrapartida, as áreas visuoespaciais estão mais desenvolvidas no cérebro masculino. Os homens necessitam de menos tempo que as mulheres para dar forma aos objetos mentalmente, bem como rodá-los. Também são mais velozes na leitura de mapas devido a esta habilidade.
O cérebro masculino também está melhor preparado que o feminino para gerar e resistir a agressões. A violência e a agressão se processam de maneira diferente: no cérebro masculino ativa o sistema de alerta, comandado ela amígdala, enquanto na mulher geram diferentes graus de estresse.
Vale também observarmos algumas diferenças do ponto de vista da psicologia evolucionista. Ela busca entender as influências biológicas decorrentes da evolução da nossa espécie nas preferências, valores, emoções, cognições e, consequentemente, nos nossos comportamentos.
O ser humano evoluiu por milhões de anos na savana africana e em outros lugares da Terra, onde viviam da caça e da coleta de alimentos. Este ambiente é chamado de ambiente ancestral, e foi nele que nossa espécie passou 99,9% de sua história.
Quase tudo que vemos em nosso redor hoje – cidades, casas, estradas, governos, a escrita – surgiram nos últimos 10 mil anos. Entretanto, nosso cérebro, está adaptado ao ambiente ancestral e nossos mecanismos psicológicos ainda são iguais aos dos nossos ancestrais. É o que chamamos de Princípio da Savana, que explica uma série de reações naturais decorrentes da formação milenar do cérebro, e as diferenças de comportamento atual a partir das atividades desenvolvidas pelos nossos ancestrais.
O homem primitivo era responsável pela caça. O seu cérebro foi treinado para, o mais rapidamente possível, localizar e abater a presa. Desta forma, desenvolveu as características de objetividade e de localização. Já a mulher primitiva ficava com o bando e era coletora. Assim, o cérebro feminino desenvolveu características relacionadas ao convívio social e o poder analítico. Recentemente, diversos estudos neurocientíficos demonstraram uma maior capacidade emocional e de empatia do sexo feminino.
Há também dois fatores biológicos simples, que levam a uma cadeia complexa de diferenças entre sexos: a anisogamia e a gestação interna no corpo feminino. Anisogamia significa que a célula sexual feminina (óvulo) é maior em tamanho e menor em quantidade que a masculina (espermatozoide). Assim, o óvulo é biologicamente muito mais valioso por ser limitado, enquanto, que o suprimento de espermatozoides é praticamente infinito, ou seja, os espermatozoides são baratos!
A gestação interna de óvulos fertilizados no corpo feminino significa que a mulher pode produzir muito menos descendentes que o homem. Em uma vida inteira, a mulher pode ter no máximo 20 a 25 gravidezes, geralmente muito menos; não há limite para o número de filhos que um homem pode, em potencial, produzir. Uma consequência fundamental disso, e que condiciona uma série de comportamentos, é que os homens ganham muito mais ao competir com outros pelo acesso a companheiras, enquanto o benefício da competição entre as mulheres em termos reprodutivos é muito menor.
Daí porque, de maneira geral, os homens são mais agressivos, competitivos e violentos do que as mulheres. Em contrapartida, as mulheres investem muito mais nos filhos do que os homens, já que cada filho representa uma parcela muito maior do potencial reprodutivo da vida da mulher do que da vida do homem.
Sem querer esgotar o assunto, conhecer as diferenças entre homens e mulheres é um primeiro, e grande passo, para melhor conhecermo-nos e entender as reações (naturais, pois biológicas são) do outro sexo. O efeito disso sobre os relacionamentos são imensos. Quer sejam entre companheiros, dentro dos grupos e, como não poderia deixar de ser, nas organizações.
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Prof. Álvaro Flores