“Ser bem-sucedido financeiramente nem sempre tem a ver com o que você sabe, mas com a forma como você se comporta.”
Esta é a primeira frase, e que já chama muito a atenção, do livro de Morgan Housel (Ed. Harper Collins, 2021). O autor segue exatamente a linha que desenvolvo nas minhas disciplinas de Neuroeconomia e no meu livro POC DECISION. A forma como lidamos com o dinheiro – finanças pessoais, investimentos, decisões de negócios – costuma ser explicada como um campo puramente matemático, no qual dados e fórmulas nos dizem o que fazer. A verdade, porém, é que grandes decisões monetárias não são tomadas diante de uma planilha, mas durante jantares com a família e reuniões com os colegas de trabalho. Além disso, cada decisão é um reflexo da história pessoal e das dificuldades enfrentadas pelo indivíduo que a tomou.
Abordando a gestão financeira de maneira inédita, Morgan Housel apresenta casos de sucessos e fracassos que demonstram a importância do fator psicológico nas finanças, oferecendo aprendizados para administrar e fazer o dinheiro render em busca do maior objetivo de todos nós: a felicidade.
Sem querer dar spoiler, pois recomendo a leitura a todos aqueles que querem melhorar as suas decisões financeiras, vou destacar alguns pontos que me chamaram atenção no livro (que ficou bastante marcado com a minha inseparável companheira de leitura: a caneta marca texto).
Para começar, “todo mundo passa a vida ancorado em um conjunto de pontos de vista sobre como o dinheiro funciona, pontos que variam amplamente de indivíduo a indivíduo”. Ou seja, cada um de nós tem crenças específicas sobre o dinheiro, que podem ser limitantes (o dinheiro é sujo, mais fácil um camelo passar pelo furo de uma agulha que um rico entrar no reino do céu…) ou facilitadoras (dinheiro traz dinheiro, dinheiro é o meio para fazer o bem…). E todas as nossas decisões financeiras são frutos das informações que temos associadas a este modelo mental que trazemos da nossa formação. Por isso, muitas vezes, mudar este mindset é o ponto de partida para mudar a sua situação financeira.
Outra lição importante: ninguém conquista a sua independência financeira do dia para a noite. Sem entrar na matemática complexa dos juros compostos, Morgan Housel dá exemplos simples de como no início as suas economias podem parecer que não estão gerando resultado, mas é o tempo que vai fazer com que o resultado aparece cada vez mais intensamente. Um exemplo meu: se uma marrequinha (aquelas plantinhas que se desenvolvem sobre a água) num lago se duplica a cada dia e, em 24 dias o lago está pela metade, quantos dias são necessários para que o lago esteja totalmente coberto pelas marrequinhas? A maioria das pessoas responde 48, pois nosso cérebro pensa mais facilmente de forma linear. Mas a resposta correta é 25. Pois se em 24 dias o lago estava pela metade e o número de marrequinhas dobra a cada dia, no dia seguinte ele estará cheio! É a magia do pensamento exponencial.
Agora, para mim, a maior pérola do livro, repetida em várias partes dele: “Fazer planos é importante, mas a parte mais importante do plano é ter um plano para quando o plano não estiver saindo de acordo com o plano”. Vivemos um mundo não linear e caótico. Um plano só é útil se for capaz de sobreviver à realidade, e um futuro complexo e repleto de incógnitas é a nossa realidade. Precisamos ter alternativas, mas sem mudar de objetivos a todo o momento. Sempre digo: o seu objetivo é fixo, as formas de alcançá-lo podem mudar a cada dia. Precisamos no preparar para as mudanças necessárias.
O autor também faz um alerta importante: “Fortuna é aquilo que você não vê.” Gastar dinheiro para mostrar às pessoas quanto dinheiro você tem é a forma mais rápida de ter menos dinheiro. Existe uma diferença conceitual importante entre riqueza, que é o seu rendimento, e fortuna, que são os ativos financeiros ainda não convertidos em coisas que podem ser vistas. De fato, o mundo está cheio de pessoas que parecem modestas, mas que possuem grandes fortunas, e de pessoas que ostentam riqueza, mas que vivem endividadas. Decorrência disso é uma ideia simples, que todos conhecem, mas que facilmente pode ser ignorada: acumular uma fortuna tem pouco a ver com seus rendimentos ou com o retorno dos seus investimentos, e muito a ver com o quanto você economiza regularmente. E Morgan Housel ainda dá uma grande dica: “Você pode guardar gastando menos. Você pode gastar menos se desejar menos. E vai desejar menos se não se importar tanto com o que os outros pensam de você.”
E a tônica final de tudo isso: “A forma mais elevada de riqueza é a possibilidade de acordar todo dia e dizer: ‘Eu posso fazer o que quiser hoje’.” Realmente a possibilidade de fazer o que se quer, quando se quer, com quem se quer, pelo tempo que se quer, não tem preço. Este é o maior dividendo que o dinheiro pode gerar. Talvez o suprassumo da felicidade…. E isso vem ao encontro do meu conceito pessoal de independência financeira, que é: ter dinheiro suficiente para não precisar pensar em dinheiro!
Quer mais? Então recomendo você dedicar um tempo e ler “A psicologia financeira” e “POC DECISION” (www.pocdecison.com.br). Para aplicação prática destes conceitos, recomendo o curso online “Finanças pessoais SEM NEURA” (www.gestaofinanceirasemneura.com.br). Confere lá! Grande abraço.
Prof. Álvaro Flores