A fisiologia pode influenciar os seus resultados financeiros?

A fisiologia pode influenciar os seus resultados financeiros?

Comecei esta série de artigos e também vou termina-la, respondendo positivamente a pergunta-título. SIM! Existem uma série de fatores fisiológicos que afetam os nossos resultados financeiros. Vamos ver alguns…

Diversas condições fisiológicas afetam o nosso comportamento perante a decisões financeiras. Você já deve ter ouvido falar que não deve ir ao mercado com fome. E isso é fato: você vai comprar coisas que não precisa. Nosso cérebro se desenvolveu em condições de escassez, há milhares de anos atrás. Lá na savana, se você visse morangos, poderia comê-los naquele momento ou nunca mais, porque existia a possibilidade de eles serem comidos por outros.

Hoje, temos abundância de recursos – é só olhar para as prateleiras de um supermercado. Mas nosso cérebro não entende isso e se você estiver com fome ele vai fazer com que você leve para casa mais do que estava na lista de compras!

Outras situações, que implicam em diferentes condições hormonais, também são imperativas nas nossas decisões econômicas. Por exemplo, quando estamos estressados (com altos níveis de cortisol em nosso sistema circulatório) é mais difícil avaliar a situação e fazer uma escolha adequada.

Um estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT) mostrou que quando estamos sob o efeito continuado de estresse se torna ainda mais difícil avaliar os riscos e as recompensas das nossas decisões. O estresse crônico leva o nosso cérebro a “confundir-se” ao olhar para os ganhos e perdas das situações, levando a uma má tomada de decisão, que acaba sendo prejudicial. Em experiências realizadas com ratos de laboratório, os animais estressados tendiam a escolher situações com altos benefícios e altos riscos em simultâneo. Os investigadores determinaram ainda que um microcircuito de neurônios situado no corpo estriado, quando sob estresse, deixa de se comunicar corretamente entre si, gerando este comportamento.

Outro aspecto importante é o efeito do álcool e da excitação nos processos decisórios. Quando era jovem, corria nas rodas de amigos um ‘lema da turma’ que dizia: “não existe mulher feia, você é que bebe pouco”. Hoje entendo a verdade por traz desta afirmação.

É comprovado que o álcool é capaz de afetar a nossa capacidade de tomar decisões. Um estudo desenvolvido na Austrália, envolvendo 80 estudantes universitários heterossexuais, pediu que eles avaliassem o grau de atração que lhes produzia uma série de fotografias de mulheres. A atração que experimentavam estava diretamente relacionada com o grau de álcool no sangue. O estudo comprovou o estímulo que o álcool produz no núcleo accumbens, responsável pelo sistema de recompensa cerebral.

Este efeito, que foi chamado de ‘efeito embelezador da cerveja’ ou ‘efeito goggle’ (efeito óculos), é resultado de uma pré-ativação pelo álcool do núcleo accumbens e de todo o sistema de recompensa cerebral. Assim, quando apresentamos um segundo estímulo, teremos uma ativação maior do sistema de recompensa cerebral, aumentando a possibilidade de tomar uma decisão positiva. Da mesma forma este efeito é válido para o momento de uma compra ou da realização de um investimento.

A excitação sexual tem o mesmo efeito. Uma série de experimentos descritos por Dan Ariely, conduzidos na Universidade de Berkeley, avaliaram as decisões de universitários com relação a decisões sexuais e morais. Os experimentos foram realizados em dois estados: ‘normal’ e de ‘excitação sexual’.

Em todos os casos, os jovens respondiam de maneira bem diferente quando estavam excitados ou de ‘cabeça fria’. Nas 19 perguntas acerca de preferências sexuais, no estado excitado, o desejo de praticar uma série de atividades um tanto extravagantes foi 72% maior do que quando fizeram as previsões de ‘cabeça fria’.

O que acontece, segundo a interpretação dos autores da pesquisa, é que na condição padrão, os lobos frontais estão totalmente funcionais, e temos o controle racional sobre nosso comportamento. Mas quando estamos em situação de excitação sexual, tomamos decisões instintivas. A propaganda usa ativamente este recurso…

Aplicação nas finanças pessoais: Keep calm e se beber, não compre!

Evite tomar decisões financeiras sob estresse. Procure aclamar-se, voltar a um estado emocional de maior tranquilidade e equilíbrio. Além de baixar os níveis de cortisol, o tempo necessário para retomar a condição de relaxamento será benéfico para a realização de avaliações mais racionais e lógicas (dando tempo para o sistema 2 entrar em ação).

Se estiver sob efeito de qualquer situação excitatória evite tomar decisões financeiras. A excitação positiva, seja ela causada por álcool ou outra substância psicotrópica, ou mesmo por situações de alegria, podem levar a superestimarmos os ganhos relativos a essa decisão. Mas atenção: o contrário também pode ser verdadeiro! Em situações de excitação negativa (depressão, tristeza, etc.) também podemos tomar decisões que nos façam perder uma grande oportunidade.