Da economia à neuroeconomia

Da economia à neuroeconomia

Não sou economista de formação, mas aprendi algumas questões básicas sobre esta disciplina que vou compartilhar para entendermos de onde viemos e aonde queremos chegar. Vem comigo…

 

De uma forma simples, a economia é a ciência que investiga a produção, distribuição, acumulação e consumo de riqueza. Tradicionalmente, a economia é dividida em duas áreas:

  • A Macroeconomia, que lida com as nações e a economia mundial, e a
  • Microeconomia, que aborda o comportamento de setores, do ambiente empresarial, do contexto social e de indivíduos específicos.

Neste contexto, é a microeconomia que está interessada no processo de decisão individual, por exemplo, nas decisões de consumidores ou nas decisões financeiras.

Em economia, quando consideramos o comportamento dos diferentes agentes econômicos, sejam consumidores, empresários ou governos, assumimos que eles tomam suas decisões sobre o que comprar, o que produzir ou quais serviços oferecer, com pleno conhecimento de preços, custos e das necessidades e desejos dos indivíduos, e que todas essas decisões são tomadas de maneira totalmente racional. Sendo assim, serão alcançados resultados eficientes na alocação de recursos.

No entanto, existem comportamentos irracionais que não encontram suporte nas teorias econômicas convencionais. A neuroeconomia visa descobrir as causas de diferentes escolhas, a fim de identificar uma série de normas que afetam o comportamento dos indivíduos para tornar a tomada de decisão mais eficaz e precisa.

A economia assume que todos os agentes econômicos atuam racionalmente e tomam suas decisões buscando maximizar seu bem-estar e que pesam todos os benefícios e custos possíveis de suas ações, optando pelos que são mais benéficos para alcançar seus objetivos. No entanto, essa abordagem implica que todas as decisões que tomamos, as milhares que tomamos todos os dias, são conscientes, quando, de fato, a grande maioria delas é tomada inconscientemente.

Nossos comportamentos são influenciados por diferentes vieses, ou seja, erros de avaliação. Além disso, tomar decisões racionais e sábias implica em ter um conhecimento das probabilidades de certos eventos.

Por exemplo, se tirarmos aleatoriamente bolas de uma sacola contendo 50 bolas vermelhas e 50 bolas brancas, qual das sequências abaixo, você acha que terá maior probabilidade de sair?

Quando faço essa pergunta para uma audiência, sempre acontece que a última recebe a maior porcentagem de votos, quando na realidade todas elas têm a mesma probabilidade!

Nosso maquinário associativo procura causas. Isto cria uma dificuldade com as estatísticas, pois temos predileção pelo pensamento casual e isso nos expõe a graves enganos ao estimar a aleatoriedade dos eventos verdadeiramente aleatórios. Somos ávidos por padrões, temos fé em um mundo coerente, em que regularidades (tal como uma sequência de bolas brancas ou vermelhas) não aparece por acidente, mas como resultado de probabilidades possíveis. As estatísticas produzem muitas observações que parecem pedir por explicações casuais, mas que não se prestam a tais explicações. Muitos fatos do mundo devem-se ao acaso, incluindo acidentes de amostragem. Explicações casuais de eventos ao acaso estão invariavelmente erradas.

Outro exemplo bem interessante… Um indivíduo, que vou chamar de João, foi descrito por uma outra pessoa da seguinte forma: “João é muito tímido e retraído, invariavelmente prestativo, mas com pouco interesse nas pessoas ou no mundo real. De índole dócil e organizada, tem necessidade de ordem e estrutura, e uma paixão pelo detalhe”. Há maior probabilidade de João ser um bibliotecário ou um fazendeiro? Qual é a sua opinião? Muito provavelmente você pensou que ele é um bibliotecário, certo?

Mas vamos lá… a pergunta foi: “Qual a probabilidade de João ser um bibliotecário ou um fazendeiro?”. Quando falamos de probabilidade, isto é matemático, racional. Se assim é, temos que fazer um raciocínio lógico.

Segundo dados do Conselho Federal de Biblioteconomia existem no Brasil 18.374 bibliotecários ativos, sendo que 4% são homens, ou seja, 735 bibliotecários homens. Já segundo o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, existem no Brasil 5.498.505 propriedades rurais, sendo que 88% dos proprietários são homens, ou seja, temos quase quatro milhões e meio de homens fazendeiros (4.383.684 para ser mais preciso). Ou seja, a probabilidade é de 99,98% de João ser fazendeiro! E você diz que é racional (você, seu cliente, seu funcionário, seu companheiro ou companheira, e aí vai…)

Muitas vezes, nosso cérebro adota atalhos, pois seria difícil estimar, constantemente, a probabilidade de todos os eventos possíveis antes de cada decisão que precisamos tomar, a fim de avaliar adequadamente os custos e benefícios.

Por outro lado, nem sempre tomamos decisões econômicas pensando em benefícios e custos, pois somos influenciados por muitas emoções, tais como amor, ódio, empatia, solidariedade, além de outros fatores, como o exercício físico que realizamos, se tivemos relações sexuais, se consumimos álcool ou outras drogas, se já adquirimos esse bem antes ou não, se comemos ou não… É verdade que não compramos o mesmo se formos ao supermercado fazer a compra com fome ou se fizermos depois de comer? É verdade que podemos fazer uma lista de compras e trazer dezenas de produtos que não estavam nela?

Agimos por impulsos, temos comportamentos baseados em hábitos ou costumes e, às vezes, comportamentos que podem ser classificados até como histeria, que, às vezes, observamos nos mercados de ações, por exemplo.

A neuroeconomia surge como justificativa e explicação para o comportamento “supostamente irracional” que não encontra suporte nas teorias econômicas convencionais. Proporciona maior conhecimento dos mercados financeiros, através do estudo dos processos neuronais fundamentais que motivam as decisões de compra e venda dos investidores. Ela também procura descobrir as causas das diferentes escolhas, a fim de introduzir uma série de regras que afetam o comportamento dos indivíduos para tornar a tomada de decisão mais eficaz e precisa.

 

Prof. Álvaro Flores