Os ambientes de negócios se modificam, sempre se modificaram… Mas estas mudanças estão ocorrendo cada vez de forma mais intensa e mais rápida.

A descrição de um ambiente de negócios relativamente estável e previsível era comum até meados do século XX, especialmente nas economias desenvolvidas. No entanto, é importante notar que mesmo durante esse período, o ambiente de negócios já enfrentava desafios e incertezas, e mudanças significativas ocorriam de tempos em tempos.

Antes da ascensão da globalização e da rápida evolução da tecnologia, vivíamos períodos de maior estabilidade econômica e os países experimentavam períodos de crescimento relativamente estáveis e previsíveis. Os padrões de consumo também tendiam a ser mais estáveis, com mudanças graduais nos hábitos e preferências dos consumidores. Nestas condições, as empresas também contavam com uma base de clientes mais estável e leal.

Anteriormente à globalização plena dos mercados, muitas empresas operavam principalmente em mercados locais ou regionais. Isso significava menos concorrência global e uma dinâmica de mercado mais previsível dentro de uma determinada região. As mudanças nos ambientes regulatórios, tecnológicos e sociais tendiam a ocorrer de forma gradual, permitindo que as empresas se adaptassem mais facilmente ao longo do tempo. Consequentemente, as empresas tinham mais tempo para planejar e implementar estratégias de longo prazo.

Em suma, os negócios eram frequentemente menos complexos em termos de cadeias de suprimentos, regulamentações e interações com as diversas partes interessadas. Isso refletia em processos de tomada de decisão mais simplificados e menores desafios na gestão da complexidade organizacional.

UM MUNDO EM MUDANÇAS

A partir da segunda metade do século XX, várias mudanças começaram a moldar um ambiente de negócios mais dinâmico e complexo.

O aumento da globalização trouxe uma maior interconexão entre os países, resultando em acesso a novos mercados e uma ampla gama de oportunidades, mas também intensificou a concorrência e introduziu mais incertezas e complexidades. Paralelamente, o rápido avanço da tecnologia, especialmente a partir da década de 1980 com a revolução da computação e da internet, transformou fundamentalmente a forma como os negócios passaram a ser conduzidos, tornando os ciclos de inovação mais curtos e aumentando a volatilidade.

Tudo isso refletiu em mudanças socioeconômicas que também afetaram as preferências dos consumidores, as expectativas dos funcionários e as práticas de trabalho. A partir dessas mudanças, o ambiente de negócios tornou-se gradualmente mais complexo, dinâmico e incerto, criando um novo paradigma empresarial.

O MUNDO VUCA

“Mundo VUCA” é um conceito que teve origem no âmbito militar dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, mas que passou a ser adotado no meio empresarial e de gestão para descrever o ambiente de negócios contemporâneo. O termo “VUCA” – do inglês: Volatility (Volatilidade), Uncertainty (Incerteza), Complexity (Complexidade) e Ambiguity (Ambiguidade) – começou a ganhar destaque nas empresas na década de 1990. No entanto, sua popularidade aumentou significativamente no início do século XXI, à medida que as empresas enfrentavam desafios cada vez mais complexos e imprevisíveis.

Com a crescente volatilidade dos mercados, a rápida evolução da tecnologia, as mudanças nas expectativas dos consumidores e outros fatores, as organizações começaram a reconhecer a necessidade de desenvolver habilidades e estratégias para navegar nesse ambiente incerto e em constante mudança. O conceito VUCA ofereceu uma estrutura para entender e abordar esses desafios.

O termo tem sido amplamente utilizado em diversos contextos empresariais, incluindo planejamento estratégico, gestão de mudanças, liderança e desenvolvimento organizacional, como uma maneira de descrever e lidar com a complexidade do ambiente empresarial contemporâneo. Vamos entendê-lo melhor:

• Volatilidade: Refere-se à natureza e à velocidade das mudanças no ambiente. As mudanças podem ser rápidas e inesperadas, o que dificulta a previsão e o planejamento a longo prazo.
• Incerteza: Relaciona-se com a falta de clareza e a imprevisibilidade no ambiente. Líderes e organizações enfrentam desafios para entender completamente as situações e tomar decisões devido à falta de dados confiáveis e previsíveis.
• Complexidade: Refere-se à interconexão de fatores e à multiplicidade de variáveis que influenciam o ambiente. Os problemas e desafios são difíceis de entender e resolver devido à sua natureza multifacetada e muitas vezes contraditória.
• Ambiguidade: Refere-se à falta de clareza na interpretação de informações e eventos. As situações podem ser confusas e abertas a múltiplas interpretações, o que dificulta a tomada de decisões eficazes.

Em resumo, no contexto do “Mundo VUCA”, organizações e líderes devem desenvolver habilidades de adaptação, flexibilidade e resiliência para ter sucesso em um mundo em constante mudança.

O MUNDO BANI

O conceito de “Mundo BANI” foi proposto pelo futurista e autor britânico Richard Watson em seu livro “Digital Versus Human”, publicado em 2016, como uma atualização do conceito de “Mundo VUCA”. O livro de Watson explora as interações entre o mundo digital e o mundo humano, abordando questões relacionadas à tecnologia, sociedade, economia e cultura. O conceito BANI oferece uma estrutura para entender essas interações e as implicações para o futuro.

Enquanto o VUCA descreve um mundo caracterizado por volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, o BANI se concentra em quatro características adicionais:

• Brittle (Quebradiço): Refere-se à fragilidade do mundo atual, onde sistemas e estruturas podem quebrar ou falhar rapidamente diante de mudanças repentinas ou extremas. Em um mundo quebradiço, a estabilidade é ilusória e as organizações precisam estar preparadas para lidar com a quebra de paradigmas.
• Anxious (Ansioso): Destaca a ansiedade generalizada que muitas pessoas experimentam devido à incerteza, à competição intensa, às pressões sociais e econômicas, entre outros fatores. A ansiedade pode ser uma característica predominante tanto em nível individual quanto organizacional.
• Nonlinear (Não-linear): Descreve a natureza não-linear das mudanças e dos eventos. Em um contexto não-linear, pequenas ações ou eventos podem ter efeitos desproporcionalmente grandes e imprevisíveis. Isso requer uma abordagem flexível e adaptativa para lidar com situações complexas e dinâmicas.
• Incomprehensible (Incompreensível): Refere-se à crescente dificuldade de entender e dar sentido ao mundo ao nosso redor devido à velocidade e complexidade das mudanças. As informações podem ser abundantes, mas a compreensão pode ser vaga, levando a uma sensação de desconexão e desorientação.

Em suma, o conceito de “Mundo BANI” oferece uma perspectiva adicional sobre os desafios e complexidades do ambiente de negócios, além do quadro já fornecido pelo VUCA.

O NOVO NORMAL

O termo “Novo Normal” passou a ser amplamente usado para descrever o período após a pandemia de COVID-19. O conceito de “Novo Normal” implica mudanças permanentes nos comportamentos, nas normas sociais, nas práticas comerciais e nas políticas públicas que ocorreram como resultado desse evento transformador. As mudanças proporcionadas pela pandemia, impactaram fortemente na maior adoção de tecnologias digitais, novas formas de trabalho, mudanças nos hábitos de consumo, protocolos de saúde pública mais rigorosos e uma reavaliação das prioridades individuais e sociais.

O “Novo Normal” emergiu como uma forma de descrever as mudanças significativas e duradouras que a pandemia trouxe para diversos aspectos da nossa vida, seja no âmbito pessoal, profissional e empresarial. Hoje, o “Novo Normal” se tornou uma realidade consolidada em muitos aspectos da vida cotidiana e dos negócios. Aqui estão algumas observações sobre o que se concretizou a partir das mudanças forçadas pela pandemia:

• Trabalho híbrido e remoto: O trabalho remoto e híbrido se estabeleceu como uma opção viável e desejável para muitas organizações e profissionais. Isso trouxe benefícios como maior flexibilidade, redução de deslocamentos e aumento da satisfação dos funcionários.
• Digitalização acelerada: A digitalização dos negócios avançou rapidamente, com mais empresas adotando soluções digitais para comunicação, colaboração, vendas e atendimento ao cliente. A transformação digital tornou-se uma prioridade para muitas organizações, que reconheceram a importância de estar preparadas para operar em um ambiente digitalmente conectado e competitivo.
• Mudanças nas preferências do consumidor: As mudanças nas preferências e comportamentos do consumidor continuam a moldar as estratégias de negócios. O aumento das compras online, a preferência por experiências digitais e a demanda por conveniência e segurança impulsionam a inovação e a adaptação por parte das empresas.
• Saúde e segurança permanentes: Medidas de saúde e segurança, permaneceram em vigor em muitos ambientes, mesmo com a diminuição das restrições da pandemia. As organizações estão comprometidas em manter ambientes seguros para funcionários e clientes, e muitas adotaram protocolos aprimorados de limpeza e desinfecção.
• Resiliência e adaptação contínuas: A necessidade de resiliência e adaptação continua a ser fundamental para o sucesso das organizações. A pandemia demonstrou a importância de ser ágil e flexível diante de mudanças rápidas e imprevisíveis no ambiente de negócios. As empresas estão investindo em estratégias de resiliência, diversificação e gestão de riscos para garantir sua sobrevivência e crescimento a longo prazo.
• Equidade e inclusão priorizadas: A pandemia destacou a importância da equidade e inclusão em todos os aspectos da sociedade. As organizações estão trabalhando para criar ambientes de trabalho mais inclusivos, promovendo a diversidade e a igualdade de oportunidades. Isso inclui iniciativas para garantir acesso equitativo a oportunidades de emprego, educação e saúde para todos.

Essas são apenas algumas das maneiras pelas quais o “Novo Normal” se manifesta hoje, refletindo as mudanças profundas e duradouras que a pandemia trouxe para os negócios e a sociedade.

O NOVO EXCEPCIONAL

Podemos olhar um pouco mais para frente e propor, não uma volta a um paradigma de normalidade, mas a um novo período em que teremos novos desafios e condições ainda mais efêmeras nos ambientes de negócios. Para essa situação, proponho o termo de “Novo Excepcional”.

Buscando no dicionário, excepcional significa “Em que há exceção. Que está além do que é considerado corriqueiro. De qualidade excelente.” Creio que é um termo bem apropriado para o que estamos vivendo.

O conceito de “Novo Extraordinário” pode ser formulado como uma abordagem para compreender e enfrentar as mudanças e desafios de maneira excepcionalmente inovadora, adaptativa e positiva. Aqui estão algumas características que podemos associar a esse conceito:

• Inovação transformadora: Enfrentar as mudanças com uma mentalidade de inovação transformadora, buscando não apenas se adaptar às novas condições, mas também aproveitar as oportunidades para criar novos modelos de negócios, produtos e serviços que tragam benefícios significativos às diversas partes interessadas.
• Resiliência e flexibilidade: Desenvolver, cada vez mais, resiliência e flexibilidade para lidar com a volatilidade e incerteza do ambiente, respondendo de forma ágil e eficaz às mudanças repentinas e imprevisíveis.
• Criatividade e empreendedorismo: Estimular a criatividade e o empreendedorismo para encontrar soluções inovadoras para os problemas emergentes, explorando novas ideias e abordagens para enfrentar os desafios atuais. Isso vale para todas as empresas e profissionais (intraempreendedorismo).
• Colaboração e cooperação: Promover a colaboração e a cooperação entre diferentes partes interessadas, reconhecendo que desafios complexos exigem abordagens multidisciplinares e parcerias eficazes para alcançar resultados extraordinários.
• Impacto positivo: Priorizar o impacto positivo nas pessoas, nas comunidades e no meio ambiente, buscando não apenas o sucesso econômico, mas também o bem-estar e a sustentabilidade a longo prazo.
• Adaptação cultural e organizacional: Cultivar uma cultura organizacional que valorize a adaptação, a aprendizagem contínua e a inovação, promovendo um ambiente onde os colaboradores se sintam capacitados e encorajados a contribuir com suas ideias e habilidades.

Em resumo, o conceito de “Novo Extraordinário” se concentra em abordagens excepcionais e inovadoras para enfrentar as mudanças e desafios atuais e futuros, buscando não apenas sobreviver ou se adaptar, mas também prosperar e criar impacto positivo de maneira significativa.

Prof. Álvaro Flores