Sempre gostei de conhecer a etimologia das palavras, ou seja, saber qual a sua origem. Não apenas por curiosidade, mas porque tenho a certeza que o significado original deixa um forte conteúdo ao sentido atual das mesmas. E é interessante também observar como as raízes etimológicas das palavras de diferentes línguas transferem um contexto diferente para as culturas que as utilizam.
Para demonstrar isso e fazer uma análise de como a origem pode influenciar no nosso entendimento sobre o significado das coisas, vamos avaliar a etimologia da palavra trabalho!
A ORIGEM
A palavra trabalho se origina do latim tripalium, termo formado pela junção dos elementos tri, que significa “três”, e palum, que quer dizer “madeira”. Tripalium era o nome de um instrumento de tortura constituído de três estacas de madeira bastante afiadas que serviam para estripar os torturados, e que era comum em tempos remotos na Europa. Desse modo, originalmente, “trabalhar” significava “ser torturado”.
No sentido original, os escravos e os pobres que não podiam pagar os impostos eram os que sofriam as torturas no tripalium. Assim, quem “trabalhava”, naquele tempo, eram as pessoas destituídas de posses. A ideia de trabalhar como ser torturado passou a dar entendimento não só ao fato de tortura em si, mas também, por extensão, às atividades físicas produtivas realizadas pelos trabalhadores em geral: camponeses, artesãos, agricultores, pedreiros etc. A partir do latim, o termo também passou para o francês travailler, que significa “sentir dor” ou “sofrer”. Com o passar do tempo, o sentido da palavra passou a significar “fazer uma atividade exaustiva” ou “fazer uma atividade difícil, dura”. Ainda no latim, outra palavra utilizada para definir o trabalho era labor, que carrega um sentido mais pesado de esforço, dor e fadiga. No italiano predominou esta origem, de que são amostras as palavras lavorare e lavoro.
Por outro lado, em inglês, trabalho é work, procedendo do grego érgon, cujo significado é ação, ou fazer algo. Como podemos ver os povos latinos acham o trabalho uma verdadeira tortura. Já para os povos de língua inglesa, a origem traz outra conotação, que pode ser algo como uma ocupação produtiva. Evidentemente que esta não é a única causa, mas fica claro que a origem do significado da palavra, ou seja, sua etimologia, afeta como ela é encarada e se reflete no resultado de cada povo. É só comparar os dois países (Brasil e Estado Unidos), que foram descobertos e colonizados na mesma época pelas duas principais potências expansionistas da Idade Moderna (Portugal e Inglaterra, respectivamente), que tem praticamente a mesma área e a mesma população, mas com um PIB pelo menos 10 vezes diferentes!
A OPÇÃO DE RESIGNIFICAR
Se a etimologia não brindou aos povos de língua portuguesa (que além de Portugal e Brasil, já citados, incluem as “potências” de Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Timor Leste e Cabo Verde) com um significado positivo para o trabalho, é necessário que busquemos um novo significado para o trabalho, ou seja, para resignificarmos o termo.
A inspiração pode ser buscada nos antigos filósofos, como Confúcio, que disse “escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”, ou Aristóteles que identificou que “o prazer no trabalho aperfeiçoa a obra”.
Ou seja, em vez de encontrar a dor no trabalho, é importante buscarmos o prazer que ele pode nos dar. E não de forma indireta: trabalho para ganhar dinheiro para aí poder ter ou fazer algo que dá prazer. O prazer no trabalho pode ser identificado quando respondemos positivamente à pergunta: se eu não precisasse de dinheiro, eu faria o que estou fazendo?
Infelizmente esta não é a regra, e aí precisarmos tanto motivar as pessoas, ou seja, encontrar motivo para o trabalho. Mas como, se a motivação não é algo que vem de fora para dentro, e sim o contrário: de dentro para fora. Daí a importância de identificarmos qual é o real motivo para estarmos neste plano e aí traçarmos nosso caminho profissional. Seguindo os ensinamentos de Buda, “sua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele”, referindo-se aí ao trabalho no sentido de missão.
Interessante verificar mais alguns aspectos comuns em nossas organizações. Por exemplo, o happy hour, ou seja, a “hora feliz”. Sempre vejo este momento fora do trabalho, normalmente sexta-feira após as 18:00. Por que não ter uma hora feliz às 8:00 de segunda?
Isso eu digo que é ressignificar, dar um novo significado e fazer com que o significado original da palavra não seja um peso, ou como no caso, uma tortura!
Então, vamos com amor ao trabalho!!!