VIVA SEM NEURA

VIVA SEM NEURA

Você quer uma vida tranquila, consigo mesmo e com os que lhe cercam? Então comece a se conhecer melhor.

Tenho a convicção de que o ponto de partida para estar de bem com a vida é o autoconhecimento. O entendimento da origem dos nossos comportamentos e atitudes é fundamental para podermos gerenciar as nossas ações. Além disso, o autoconhecimento leva ao melhor conhecimento do outro.

E como buscar o autoconhecimento? Sempre digo que “nós somos o que o nosso cérebro nos faz ser”. Consequência disso: para nos conhecermos melhor é importante conhecer um pouco do funcionamento deste órgão maravilhoso que nos faz distintos de qualquer outra espécie vivente.

Não estou dizendo que você precisa ser um neurocientista para VIVER SEM NEURA, mas o conhecimento de alguns princípios básicos, que vou compartilhar com você neste artigo, vão ajudar na sua caminhada de autoconhecimento.

 

SOMOS ANIMAIS DE HÁBITOS

O cérebro representa apenas 2 a 3% do peso corporal, mas consome aproximadamente 20% da nossa energia. Ou seja, é o nosso órgão mais “gastão”. E, no processo evolutivo de nossa espécie, ele se desenvolveu buscando constantemente maneiras de economizar energia e evitar altas cargas de processamento mental.

Daí sermos animais de hábitos! O hábito serve exatamente para economizarmos energia. Não precisamos pensar para aquilo que fazemos repetidamente. Fazemos de forma automática. Imagine que esforço seria termos que pensar (gastar energia) toda vez que escovamos os dentes. Já começaríamos o dia casados. Sim, pensar cansa! Então, diversas atividades são feitas de forma praticamente automática. E repare que você escova os dentes geralmente do mesmo jeito!

Uma clara consequência desta característica do cérebro é a natural resistência que temos à mudança. E, se a mudança é necessária, mas não é natural, então ela tem que ser gerenciada. 

Para mudarmos temos que, em primeiro lugar, ter consciência do que precisa ser mudado, o que ganhamos em mudar e o que perdemos em não mudar. Aí entra a decisão, que tem um forte impacto emocional, ou seja, busca gerar prazer ou evitar uma dor. Também é necessário ter conhecimento sobre as novas situações que se apresentam e desenvolver um plano de ação para colocar em prática a mudança. E ela se completa com a repetição, gerando um novo hábito!

 

SIMPLIFICAMOS NOSSAS ANÁLISES

O cérebro recebe do meio externo mais de 11 milhões de bits de informação por segundo, mas conseguimos processar conscientemente apenas uma infinitésima parte: de 40 a 50 bits por segundo (para ter uma ideia do que significa esta quantidade, é mais ou menos o que você está usando para ler este texto).

Em função disso, o cérebro emprega atalhos mentais para selecionar apenas aquela informação considerada útil. Por exemplo: o cérebro se concentra mais em coisas associadas inconscientemente a conceitos que utilizamos com frequência, ou que utilizamos recentemente. Ele também concentra a atenção no que confirma nossas opiniões e crenças e ignora coisas que nos contradizem. Ou seja, temos a tendência de dar muito mais credibilidade ao que está alinhado ao que já pensamos, e isso nos faz valorizar mais aquilo que venha a confirmar o que acreditamos. E isso é constantemente potencializado, construindo a dificuldade de mudarmos de opinião sobre um determinado fato ou situação, mesmo que errados!

Então, devemos ter a consciência que temos a nossa realidade, e que ela pode ser diferente da realidade das outras pessoas. Não é só questão de respeitar outras opiniões, mas entender que a perspectiva do outro é diferente da nossa.

 

NOSSAS DECISÕES SÃO EMOCIONAIS

As características cerebrais anteriormente descritas afetam diretamente nossos processos diários de tomada de decisão, que não são realizados de forma tão racional quanto acreditamos. 

De uma forma simplificada podemos dizer que dois sistemas regem o cérebro humano. O Sistema 1, que opera automática e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma percepção de controle voluntário; e o Sistema 2, que aloca atenção às atividades mentais laboriosas, incluindo cálculos, escolhas e concentração, mas que é lento. Diversos estudos demonstraram que a decisão é tomada, fundamentalmente, pelo Sistema 1 (Eu intuitivo), sendo posteriormente justificada pelo Sistema 2 (Eu consciente).

Quando pensamos em nós mesmos, nos identificamos com o Sistema 2, o Eu consciente, racional, que tem crenças, que faz escolhas e decide o que pensar e o que fazer a respeito de algo. Embora o Sistema 2 acredite estar onde a ação acontece, é o automático Sistema 1 que determina a maior parte das nossas decisões. 

Por isso é importante, para tomar decisões mais apropriadas, dominar o “impulso”, que é a ação do Sistema 1. Então, para evitar uma decisão que não seja a mais adequada, é importante dar tempo para que o Sistema 2 entrar em ação. Pare e pense!

 

BUSCAMOS ANTECIPAR AS RECOMPENSAS

Esse aspecto é bem ilustrado na história da formiga e da cigarra. Como você deve se lembrar, a cigarra aproveitou o verão não se preocupando (pré-ocupando, ou ocupando-se antecipadamente) com o inverno. Enquanto isso, a formiga continuava trabalhando, diuturnamente, para garantir os recursos necessários para suportar a próxima estação. Nós, humanos, somo como as cigarras! 

Essa preferência por recompensas imediatas é descrita em vários estudos, que demonstram também a nossa tendência a postergar aquilo que nos causa dor ou desprazer. Uma consequência desse efeito é a procrastinação, ou em bom português, o conhecido “empurrar com a barriga”. Postergamos aquilo que não nos dá prazer (ou nos causa desprazer), aquilo que desconhecemos ou nos causa medo. 

Aí não tem jeito: novamente temos que trazer este “modus operandi” à consciência, estabelecer as estratégias necessárias e utilizar as ferramentas que venham a nos facilitar colocar em ação o que temos que fazer.

 

TEMOS AVERSÃO À PERDAS

A Teoria da Perspectiva sugere que somos candidatos a riscos quando enfrentamos perdas e, avessos a riscos, quando enfrentamos ganhos. Em outras palavras, arriscamos mais para não perder do que para ganhar. 

A razão de aversão à perda foi estimada em diversos experimentos e, normalmente, fica na faixa de 1,5 a 2,5. E por que isso acontece? O cérebro humano contém um mecanismo que é projetado para dar prioridade a notícias ruins. Reduzindo em centésimos de segundo o tempo necessário para detectar um predador, esse circuito aumenta as chances de sobrevivência. As operações automáticas do Sistema 1 refletem este histórico evolucionário.

No momento de qualquer decisão, também estamos susceptíveis aos dois aspectos: o ganho que vamos ter ao tomar a decisão e a perda que teremos em não tomá-la. Este balanço entre ganhos e perdas, sempre está inclinado ao que podemos perder. Isso pode limitar o aproveitamento de oportunidades que podem estar passando em nossa frente a qualquer momento.

 

SOMOS DIFERENTES

Estatisticamente existe uma chance em 1070 (1 seguido de setenta zeros) de que duas pessoas sejam iguais. Ou seja, somos diferentes!

Apesar do cérebro de todos os indivíduos da nossa espécie ser anatomicamente e fisiologicamente muito semelhante, a partir do momento do nosso nascimento (provavelmente antes), somos influenciados pelo meio em que vivemos. Todos os estímulos recebidos e as respostas dadas, causam imprintings que vão condicionando caminhos sinápticos preferenciais e construindo memórias específicas. Isto reflete em nossos perfis de comportamentos, tema este bastante estudado pela psicologia.

Compreender o nosso semelhante já não é fácil. E quando não é tão semelhante, então? Pois é buscando entender essas diferenças que podemos melhorar nossos relacionamentos e VIVER SEM NEURA!

Porém, existem diferenças que são biológicas, principalmente as associadas ao sexo e também à idade. Entendê-las ajuda bastante. 

O cérebro masculino e feminino é diferente (como já abordamos no artigo https://alvaroflores.com.br/artigo/relacionamento-sem-neura ). Como regra geral, o cérebro masculino é melhor em tarefas que envolvem capacidade visual, memória espacial, rotação da imagem mental, e resolução de problemas matemáticos. Já o cérebro feminino é melhor em tópicos como fluência verbal, tarefas motoras finas, na localização de objetos, na sensibilidade e na percepção de baixos níveis de estimulação em todos os sentidos. 

Estes comportamentos são decorrentes das diferenças anatômicas dos cérebros bem como de influências biológicas decorrentes da evolução da nossa espécie. O homem primitivo era responsável pela caça. O seu cérebro foi treinado para, o mais rapidamente possível, localizar e abater a presa. Desta forma, desenvolveu as características de objetividade e de localização. Já a mulher primitiva ficava com o bando e era coletora. Assim, o cérebro feminino desenvolveu características relacionadas ao convívio social e o poder analítico. Recentemente, diversos estudos neurocientíficos demonstraram uma maior capacidade emocional e de empatia do sexo feminino. 

 

PARA ENCERRAR…

Devido à vastidão do assunto, não é possível esgotá-lo em um único artigo. Porém, espero ter deixado uma pequena contribuição para que você busque caminhos para se conhecer melhor, entender melhor as pessoas com as quais você se relaciona – na família, entre amigos, no trabalho – e, consequentemente, possa aproveitar esta existência, que no final das contas é tão rápida. Aproveite a vida, e VIVA SEM NEURA!

 

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